Lucca Willians
Em reunião da Comissão Especial de Inquérito (CEI) que apura problemas na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE – Vargem Limpa), o presidente do DAE, Eliseu Areco, declarou, nesta sexta-feira (21), que a contratação do serviço de Assistência Técnica a Obra (ATO) não sanará os problemas decorrentes da necessidade de 1.049 revisões no projeto executivo – um dos objetos da investigação paralela.
A ATO é apontada, inclusive pelo Tribunal de Contas da União (TCU), como instrumento crucial para o desenrolar da obra, que deveria ter sido entregue em outubro de 2016, mas segue em ritmo lento.
A informação de que a contratação do serviço – prevista para ser finalizada em junho e com custo estimado em R$ 7 milhões – não resolverá os impasses relativos ao projeto, entretanto, surpreendeu.
Areco explicou que, além do acompanhamento da obra para sanar pontos extraordinários que surgirem ao longo de sua execução, a empresa vencedora da licitação, cujo edital se tornará público no dia 10 de março, também fará o gerenciamento dos serviços.
Ao presidente da CEI, vereador Mané Losila (PDT), e aos demais membros do colegiado, os parlamentares Coronel Meira (PSB), Chiara Ranieri (DEM), Edvaldo Minhano (Cidadania) e Yasmim Nascimento (PSC), o presidente do DAE esclareceu que as pendências sobre o projeto precisam ser sanadas pela Arcadis Logos – multinacional que incorporou a empresa contratada pela autarquia para desenvolver o projeto executivo no início da década.
O gestor relatou, contudo, as dificuldades em conseguir da empresa o respaldo necessário. As tratativas contam com o acompanhamento do Ministério Público Estadual e do Ministério Público Federal, que podem, inclusive, judicializar a discussão em torno das responsabilidades.
Durante a reunião, Eliseu Areco reiterou que é responsabilidade da empresa projetista garantir a compatibilidade do projeto com a obra. Ainda assim, embora a Arcadis Logos tenha apontado as 1.049 revisões, não emitiu a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) nem o planilhamento financeiro das mudanças – ponto considerado crucial, já que os aditivos ao contrato com a construtora COM Engenharia não podem superar 25% do valor global inicialmente estimado para ETE Vargem Limpa, de R$ 129.229.676,07.
Até agora, já foram autorizados R$ 15,6 milhões (12%) e outro pedido de R$ 1,9 milhão está em análise.
Oitivas
Eventuais responsabilizações sobre o aceite do projeto executivo por agentes públicos são o alvo da primeira fase de oitivas da CEI, agendada para os dias 28 de fevereiro e 4 de março (Veja abaixo o cronograma).
Foram chamadas as pessoas que depuseram na sindicância instaurada no DAE e as que integram a Comissão de Análise Técnica do Projeto Executivo. Leia mais
O recebimento final foi assinado pela engenheira aposentada Nucimar Paes e pelo ex-presidente do DAE Fábio Lara, mas o procedimento administrativo de investigação da autarquia foi arquivado.
O aval dado ao projeto executivo embasa a manifestação da Arcadis Logos junto ao TCU na tentativa de se eximir de responsabilidades.
Além disso, a empresa argumenta que o trabalho da ETEP foi elaborado a partir do projeto básico fornecido pelo DAE.
Empresas na CEI
A CEI deliberou convites para que representantes da Arcadis e da COM Engenharia – responsável pela construção da estação – sejam convidados a falar ao colegiado de apuração.
Importante lembrar que a obra da ETE já contou com serviço de gerenciamento, mas, após o vencimento do compromisso com o consórcio, a autarquia não obteve êxito na contratação de nova empresa, após apontamentos do Tribunal de Contas do Estado (TCE).
Areco esclareceu que o gerenciamento foca na execução pelo aspecto financeiro; a ATO, pelo técnico.
CREA e Assenag – Respaldo técnico
A solicitação de acompanhamento dois trabalhos da CEI por representantes do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) e da Associação dos Engenheiros Arquitetos e Agrônomos de Bauru (Assenag) foi acatada pelas entidades.
Mané Losila agradeceu as participações e contribuições, já na reunião desta sexta-feira, dos profissionais Eduardo Gomes Pegoraro e José Tadeu Silvestre.
Documentação
Parte dos documentos requeridos pela CEI da ETE já foi remetida à Câmara pelo DAE.
O prefeito Clodoaldo Gazzetta, entretanto, encaminhou ofício aos parlamentares, solicitando prazo de 15 dias para disponibilizar extratos bancários detalhados das contas relativas à obra e informações sobre os aditivos já firmados.
Coronel Meira e Edvaldo Minhano pontuaram que o tempo parecia exacerbado, com risco de atrapalhar os trabalhos da comissão, que tem prazo de 60 dias, prorrogáveis por mais 30, para finalizar suas atividades.
Chiara Ranieri e Yasmim Nascimento, interessadas em saber a motivação do pedido do Executivo, fizeram contato com a Secretaria de Finanças, que se prontificou a entregar os documentos até a próxima sexta-feira (28/02).
Ainda na reunião de hoje, Eliseu Areco e equipe detalharam os fluxos de análise e pagamento dos serviços executados e medidos no canteiro de obras da ETE.
O Termo de Compromisso firmado junto à União e à Caixa Econômica Federal (CEF) estabelecem repasse de R$ 118 milhões via PAC Saneamento para a construção da estação. Todo o custo restante, de contrapartidas, aditivos e reajustes por tempo, é suportado pelo Fundo de Tratamento de Esgoto (FTE).
Também saem do FTE os recursos necessários para garantir a encomenda de equipamentos.
Os adiantamentos são proporcionalmente repostos pela União, conforma conclusão das instalações.
Com informações da Assessoria de Comunicação da Câmara Municipal de Bauru.