Dica: RAN (1985)

  • Luiz Rosa

Ran, 1985, de Akira Kurosawa é uma das obras mais impressionantes do diretor. Dito isso do realizador de obras eternas como Rashomon (1950), 7 Samurai (1954) e Harakiri (1962). Baseado na obra King Lear de Shakespeare, Ran é um épico que conta a história dos três filhos do lorde Hidetora Ichimonji que, aos 70 anos de idade, decide dividir o reino entre os três filhos: Taro, Jiro e Saburo.

Taro, o mais velho, substituiria seu pai como o grande lorde, apoiado por seus irmãos mais novos, encarregados de outros dois castelos secundários do pai. Entretanto, sabendo da deslealdade de seus irmãos mais velhos, Saburo expõe a situação ao pai que não aceita os comentários subversivos de seu filho mais novo e acaba por baní-lo de suas terras. Fujimaki, outro lorde que testemunha esse evento, apoia a franqueza de Saburo e o convida a casar-se com sua filha. Quando a traição dos filhos mais velhos levam o velho Hidetora à decadência mental e ao exílio, Saburo retorna com suas próprias tropas para resgatar seu pai e tentar salvar seu clã.

Mais do que uma tragédia épica, Ran é um filme visualmente estarrecedor. Obra de um diretor mais conhecido pelos seus filmes preto e branco, aqui encontramos um mar de cores fortes. Do figurino à direção de arte, Ran é um retrato de uma época e dos costumes de um povo. Da beleza visual o filme aos poucos nos leva ao caos da guerra, refletindo o estado mental perturbado de Hidetora, culminando em uma grande e sanguinolenta batalha final entre os exércitos. Apesar de ser um filme longo e algo a ser contemplado, acredito que seja uma das obras mais acessíveis de Kurosawa aos “não iniciados”.

Ran é uma experiência que eu ainda não tive o prazer de assistir em uma tela grande de cinema, cuja experiência seria mais adequada para o grandioso escopo das imagens do filme - como as paisagens, os detalhes, os castelos e até as batalhas. Evidentemente não foi um filme feito para ser assistido na tela do seu celular. Um filme sobre amor, ternura, ganância, loucura e o poder, Ran se mantém um filme atemporal, uma obra prima de um grande mestre do cinema.