Análise: Whiplash – Em Busca da Perfeição (2014)

  • Luiz Rosa

Whiplash: Em Busca da Perfeição (2014), de Damien Chazelle, foi um daqueles raros filmes que entraram na minha lista de favoritos logo de cara. Amor à primeira vista, normalmente é assim que um filme entra para a minha lista, lista essa que um dia eu irei publicar aqui. Assim como o mundo do cinema, a música sempre me fascina. Quando os dois se encontram então... E Damien Chazelle até o momento nos trouxe dois maravilhosos filmes sobre música, este que vos trago e o maravilhoso La La Land (2016), além, é claro, de First Man (2018), filme sobre o astronauta Neil Armstrong que pode não se tratar de música, mas é acompanhado por uma das mais belas trilhas sonoras que eu já vi.

Whiplash é um filme sobre um promissor aluno constantemente desafiado por seu professor, até aí poderíamos estar falando do Sr. Miyagi e Daniel Larusso, Mestre Yoda e Luke Skywalker, Rocky e Creed, mas Whiplash explora os limites tóxicos deste relacionamento Mentor-Protégé e suas consequências.  Até onde devemos incentivar e forçar os limites em busca de algo maior? O Filme retrata a relação de Andrew (Miles Teller), um ambicioso baterista de jazz e seu líder de banda, o perfeccionista e abusivo Fletcher, brilhantemente interpretado por J. K. Simmons. Chazelle explora um intenso jogo psicológico de morde e assopra entre Fletcher e Newman, levando o aluno aos extremos da dor emocional à dor física com as mãos ensanguentadas de tanto tocar bateria sem parar. O filme prossegue neste embate entre professor e aluno levado aos limites, após uma brusca ruptura, temos o embate final, onde todas as diferenças e amarguras são colocadas de lado em prol do momento de perfeição e completa maestria.  Nestes dez minutos finais de filme, há uma suspensão das tensões entre mestre e aluno, dando lugar a uma genuína colaboração entre os dois, culminando na sublimação de Andrew em uma incrível performance solo de bateria.

O final do filme pode até parecer reforçar a ideia de que tais atitudes tóxicas do professor são o que levaram Andrew a perfeição. Entretanto, em determinado momento do filme onde Fletcher e Andrew conversam em um bar, o aluno questiona o professor: “Mas não existe uma linha? Você sabe, aonde você vai longe demais e acaba desencorajando o próximo Charlie Parker [lendário saxofonista de jazz] de se tornar um Charlie Parker?”. Pergunta a qual o professor responde que um Charlie Parker de verdade nunca seria desencorajado, o que Andrew parece concordar. Neste momento vemos o quanto o aluno está investido e envolvido na loucura de seu professor, ou será uma loucura já compartilhada desde o início? Isso eu deixo para vocês interpretarem. Por fim, temos um filme fantástico que sempre me trás à memória uma máxima que um professor meu costumava dizer: “ruim para a vida, excelente para o cinema”.