Governo de SP inicia teste de vacinação em massa na cidade de Serrana

  • Lucca Willians

Megaoperação deve imunizar 30 mil moradores com vacina do Butantan e medir redução de contágio do coronavírus

O Governador João Doria deu início nesta quarta-feira (17) a uma megaoperação inédita de vacinação em massa para medir a redução do contágio do coronavírus em uma população. A ação ocorre no município de Serrana, na região de Ribeirão Preto. Cerca de 30 mil moradores com idade acima de 18 anos receberão a vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com a biofarmacêutica Sinovac.

"Serrana a partir de hoje entra para a história da ciência mundial. Esse é o primeiro estudo no mundo de imunização plena de uma comunidade, de uma cidade com 30 mil pessoas que serão vacinadas. Foram separadas 60 mil doses para esse estudo, o que não implica em dedução do compromisso do Instituto Butantan e do Governo de São Paulo para entrega de 100 milhões de doses da vacina do Butantan ao Governo Federal", disse o Governador.

A iniciativa segue moldes de pesquisa clínica e permite estudar a eficiência da vacina na diminuição da transmissibilidade do coronavírus. A eficácia e a segurança do imunizante já foram comprovadas no segundo semestre de 2020, em estudo com 12,5 mil voluntários em 16 centros de pesquisa brasileiros.

O município de Serrana foi escolhido por apresentar alto índice de casos, entre outros fatores. O objetivo será estudar o impacto epidemiológico da vacinação em uma população adulta como forma de conter a pandemia.

A vacina será aplicada somente em moradores voluntários, com intervalo de quatro semanas entre as duas doses. A cidade foi dividida em 25 áreas que formam quatro grandes grupos populacionais identificados pelas cores verde, amarela, azul e cinza. Os moradores do grupo verde serão os primeiros a receber o imunizante.

Os voluntários serão vacinados em datas previamente agendadas. O estudo fará uma série de comparações entre cada grupo antes e depois da vacinação. Após a imunização desta quarta, as demais estão previstas para os dias 24 de fevereiro e 3 e 10 de março. Haverá oito locais de aplicação das doses.

Somente moradores de Serrana devidamente cadastrados poderão participar da pesquisa clínica. Menores de 18 anos, mulheres grávidas ou que estão amamentando e pessoas que tiveram febre nas 72 horas anteriores não irão receber a vacina.

Entenda o método

O estudo escalonado por conglomerados vai avaliar a eficiência da vacinação em relação à transmissão do vírus, redução de carga do sistema de saúde, bem como outros efeitos indiretos da vacinação na economia, na circulação de pessoas e na aceitação da vacinação, por exemplo. O acompanhamento vai permitir mensurar todos esses aspectos em nível populacional, dados que geralmente são apresentados somente após a conclusão do programa de vacinação.

"A ideia é vacinar o maior número de pessoas da população adulta. Nós estamos prevendo uma vacinação que pode chegar a 30 mil pessoas. E, com isso, a gente acompanha a evolução da epidemia. Tem aspectos técnicos que vão permitir fazer cálculos, fazer projeções e calcular se a vacina é capaz de diminuir a transmissão do vírus", explica o diretor do Instituto Butantan, Dimas Tadeu Covas.

A cidade do Projeto S foi escolhida com base em três critérios: precisaria ser um município pequeno; possuir taxa de infecção elevada para que o efeito de vacinação fosse avaliado mais rapidamente; e estar próximo ou conter um centro de pesquisa. Serrana foi escolhida por reunir os três fatores e ter números elevados de Covid-19 comparados a todos os municípios do entorno.

Foi realizado um mapeamento para obter um entendimento não só geográfico, como também social das áreas de Serrana e analisar o nível de aceitação da vacina. Com a ativação do sistema de vigilância, todos os moradores foram submetidos a um censo e a um processo de georreferenciamento por meio do qual será possível acompanhar o número de casos, exames positivos, internações e consultas médicas – o que permite comparar o resultado de cada região.

A imunização da população serranense poderá ter efeito indireto de proteção em quem não puder, por alguma razão, ser vacinado. Esse é um dos efeitos que o Projeto S pretende estudar.

"É um estudo importante para todos nós. Importante para Serrana, para o estado de São Paulo, para o Brasil e para o mundo. Com base no que vamos aprender aqui, poderemos contar para o restante do mundo qual o efeito de fato da vacinação contra a Covid-19", afirmou Ricardo Palacios, diretor de estudos clínicos do Butantan.