Lucca Willians
Foi só publicar em suas redes sociais a foto com o esparadrapo no braço, indicando que havia tomado a vacina contra a Covid-19, que a atriz Aline Abovsky, 48 anos, começou a receber mensagens com perguntas como "qual mutreta você fez para poder tomar a vacina", "o que você tem para poder tomar vacina?".
"De tanto ter que ficar explicando individualmente que sou hipertensa, que isso é uma comorbidade para a Covid e que não tinha conseguido atestado de maneira ilegal, fiz um post desabafando, porque me senti muito mal com essa cobrança", diz.
Assim como Aline, muitos brasileiros que se vacinaram por terem alguma comorbidade - doença que pode levar a um quadro mais grave da Covid, aumentando inclusive a chance de morte -, viraram alvo de questionamentos sobre seu estado de saúde e insinuações de que teriam furado a fila da vacina.
O constrangimento causado pelos "fiscais de comorbidades" pode, à primeira vista, parecer mais uma das tantas discussões que ficam apenas nas redes sociais. Mas a invasão da privacidade do paciente pode ser tão opressora que ultrapassa o mundo virtual, e alguns até relutam em se vacinar, mesmo tendo direito. É o caso de Marta (nome fictício), 39 anos, que pensou duas vezes antes de ir até o posto de saúde para tomar a primeira dose do imunizante. Por ter HIV (vírus causador da Aids), a camareira temia passar por algum constrangimento na triagem.
Ao chegar no local, suas suspeitas foram confirmadas: um problema com a documentação expôs sua condição para as pessoas ao redor e, mesmo com laudo, a aplicação foi negada. Saiu do posto decidida a não se vacina. Mas a assistente social que acompanha seu caso a convenceu do contrário e, na segunda tentativa, ela conseguiu. O alívio foi tanto que publicou em suas redes sociais. Após a publicação, mensagens como "o que você fez para conseguir [se vacinar] se você não tem nem 40 anos?", começaram a chegar. Para não expor a sua condição, mentiu dizendo que tinha outra comorbidade.
Com informações da FolhaPress.